sábado, 23 de maio de 2015

O Macaco e a Viola da Cultura Popular Nordestina

O macaco e a Viola ou O macaco que perdeu o rabo. (Conto da Cultura Popular Nordestina - Adaptação: Prof. MSc. Edilma Silva Santos) Certa vez, logo cedo pela manhã, um macaco que andava pela estrada, resolveu que queria ganhar uma viola para lhe acompanhar na vida. O problema era que ele não tinha nada. Então, resolveu se sentar à beira do caminho e esperar algum milagre acontecer. Quando ele se sentou estirou seu grande rabo atravessando o caminho. Foi quando veio um homem numa carroça de boi. O homem disse: - Macaco! Tire seu rabo da estrada que eu quero passar! - Que nada! Pode passar por cima! Meu rabo é muito forte! - Macaco! O pneu da carroça vai quebrar seu rabo e o senhor vai querer outro. - Não se incomode! Pode passar assim mesmo! Já disse que meu rabo é muito forte! Então, como o homem da carroça tinha pressa resolveu passar por cima do rabo do macaco. Foi daí que o rabo do macaco se quebrou e o danado, mesmo com muito grito de dor, falou para o homem: - Eu quero meu rabo! - Eu lhe disse que seu rabo ia quebrar, mas você teimou comigo. Agora deu no que deu! - Só sei que quero meu rabo! Ou você me dar um rabo ou me dar uma viola! - Eu não tenho viola nenhuma! A única coisa que eu tenho é um facão. -Então, ou me dá o rabo, ou me dá o facão! Foi daí que o homem deu o facão para o macaco e seguiu seu caminho. O macaco, de posse do facão foi andando pela estrada, quando encontrou no caminho uma mulher cortando lenha com os dentes. - Minha senhora! Cortando lenha com os dentes? Tome esse facão! - Não posso aceitar, seu macaco! Eu já quebrei todos os meus facões para fazer fogueira! Depois, se eu quebrar o seu facão o senhor vai querer outro. - Que nada! Meu facão é forte! Com a insistência do macaco, a mulher aceitou o facão. Ela cortou tanta lenha que o facão se quebrou. O macaco, que tinha ido dar uma volta, quando voltou foi logo perguntando: -Cadê meu facão? -Se quebrou! -Se quebrou não! Você quem quebrou! Eu quero meu facão! Mas o senhor disse que seu facão era forte e que ele não se quebraria! Não importa! Eu quero meu facão! Ou meu facão ou uma viola! Mas a mulher não tinha viola. O que ela tinha era somente um cesto velho. O macaco aceitou o tal cesto no lugar do facão e foi embora. A mulher, coitada, voltou a cortar lenha com os dentes. Lá pela tarde, quando chegou na cidade, encontrou uma mulher que estava vendendo os pães na saia da roupa. - Minha senhora! Vendendo pão na roupa? Que falta de higiene! Tome este cesto! - Quero não, seu macaco! Eu vendo muito pão! Se eu colocar meus pães no seu cesto, ele pode se esbagaçar todo... Vou perder meus pães e o senhor vai ficar sem seu cesto! - Que nada! Meu cesto é muito forte! Pode vender seus pães sem medo! O macaco insistiu tanto, que a mulher aceitou o cesto. O macaco tinha ido conhecer a cidade e quando encontrou a mulher novamente, só a viu com um pão na mão. - Ué! Cadê meu cesto? - Seu cesto estava muito velho! Se esbagaçou assim que coloquei meus pães nele. Só consegui segurar este pão. - Não quero saber! Ou você me dar o cesto ou então me dar esse pão! Eu quero mesmo é uma viola, mas já estou vendo que você não tem condição de me dar uma... Então o pão vai servir. A pobre mulher deu o pão para o macaco e foi embora. O macaco sentiu muita vontade de comer o pão, mas se ele o comesse voltaria a não ter nada. Então, como já tinha anoitecido ele entrou numa casa e se espantou ao encontrar duas moças tomando café com cinzas. - Mas o que vejo? Tomando café com cinzas? Comam este pão! - Seu macaco! O senhor só tem um pão. Como esse pão vai dar para nós três? É melhor o senhor comer sozinho! Nós já estamos acostumadas a comer cinzas. - Que nada! Nem estou com fome! Podem comer! Está delicioso! Comam! Comam! O macaco deixou o pão em cima da mesa e deu uma saidinha. As moças, que há tempos não viam pão resolveram dividir o pão ao meio e comeram todinho. Quando o macaco chegou perguntou: - Cadê meu pão? - Você mandou a gente comer! - Mas vocês poderiam, pelo menos, ter deixado um pedacinho pra mim! Eu quero meu pão! - Mas a gente não tem pão, seu macaco! A gente não tem nada! Só temos a nós mesmas! - Então, eu quero uma moça de vocês pra mim no lugar do pão! As moças, sem opção, tiraram par ou ímpar para saber quem iria com o macaco. De posse de uma das moças, lá se foi ele de braços dados. Lá pelas 10 da noite, entrou num baile e viu vários casais dançando. Também tinha dois homens dançando juntos. O macaco foi em direção deles e falou: - Meus senhores! Dançando homem com homem? Longe de mim o preconceito, mas acho que vocês deveriam dançar com essa moça! Experimente dançar com essa moça linda como esta! - Realmente a moça é muito linda, seu macaco! Mas o senhor só tem uma e nós somos dois. - Tenho certeza que vocês vão encontrar um jeito para resolver esse problema. Ela além de linda é muito forte. Vai aguentar dançar com os dois. O macaco nem quis argumentar muito. Foi deixando a moça com os cavalheiros e deu um jeito de sair de mansinho. Os homens não conseguiam entrar em acordo de quem dançaria com a moça primeiro. Cada um pegou em um braço da moça e começou a brigar por ela. Na disputa, de puxa pra lá e puxa pra cá, a moça quebrou os braços. Nessa hora o macaco voltou ao salão e disse: - O que vocês fizeram com minha moça? - Você disse que sua moça era forte! - Disse sim! Mas não lhes dei o direito de quebra-la toda! Agora, lhes darei três opções: Ou vocês me dão uma nova moça, ou eu vou até a delegacia, ou vocês me dão uma viola. Os homens, com medo de serem presos compraram a viola de um dos tocadores do baile e entregaram ao macaco. As pessoas do baile ajudaram a moça e levaram-na ao hospital. O macaco, enfim, conseguiu o que ele queria e foi embora cantarolando pelo caminho de volta para casa: - Do meu rabo ganhei um facão! Do facão ganhei um cesto! Do cesto ganhei um pão! Do pão ganhei uma moça! E da moça ganhei uma viola... Tinguilin tim tim o macaquinha já vai embora... Tinguilin tim tim o macaquinho já vai embora. E lá se foi o macaco feliz com sua viola! “Esta história entrou por uma porta e saiu por outra. Quem quiser que conte outra!” Fim

sábado, 17 de janeiro de 2015